Por Stefany Vieira
O século XX foi responsável por uma grande transformação no sistema
estrutural organizacional. Conhecemos a Escola clássica da Administração e como
modelos de controle rígido e burocrático começaram a ganhar espaço nas
indústrias automobilísticas da época. Como exemplo encontra-se o Fordismo,
marcado como um modelo de produção em massa, trabalhos repetitivos e
padronização das funções.
No Fordismo a empresa era vista como uma
máquina, assim cada funcionário tinha suas tarefas definidas e não conheciam o
resultado final do trabalho ou até mesmo as outras etapas. A linha de produção
utilizava novas técnicas empregadas por Henry Ford para melhoria e aumento da
produtividade da organização, diminuindo os custos de produção e o esforço
humano. Como Max Weber observou, os sistemas mecânicos têm forte relação com o
aumento da burocracia nas organizações, pois esta rotiniza os processos e isso era
o que Ford buscava com a Linha de Montagem.
Enquanto Ford instalava esse novo modelo de administração, Frederick
Taylor desenvolveu uma base de princípios onde o controle e a fragmentação
completa das funções eram a chave para o aumento brutal da eficiência nas
empresas, enquanto os gerentes cuidavam do planejamento, os funcionários
realizavam a execução. Por outro lado, essa fragmentação causava efeitos
negativos quando o funcionário perdia as habilidades gerais manuais por causa
das tarefas limitadas e fragmentadas.
No geral, a Administração Científica e seus expoentes reforçavam um
tipo de administração racional focada no controle absoluto e em regras e metas
fixadas. O principal objetivo desse grupo era garantir o aumento da eficiência e a
diminuição dos custos de produção.
Enquanto o Fordismo declinava no decorrer do século XX, surgia no
Japão um novo modelo de administração, chamado de Toyotismo. A empresa Toyota
apresentava grandes problemas após o fim da Segunda Guerra Mundial, entre eles:
falta de capital, pequeno mercado consumidor e ausência de matéria-prima
própria no país. Com esses três fatores desfavoráveis seria de assumir que a
Toyota não teria chance alguma concorrendo com empresas americanas como a Ford.
Porém não foi isso que aconteceu.
O Toyotismo inovou trazendo o que foi chamado de Produção Flexível,
onde a produção era feita de acordo com as demandas do mercado. Esse tipo de
produção envolvia um grande compartilhamento de informações e conhecimento de
todos envolvidos na empresa. Ao contrário da Ford que possuía uma hierarquia
rígida e totalmente verticalizada, a Toyota investiu em uma administração
horizontal. O foco na integração entre todas as etapas de produção e a
participação ativa dos funcionários na melhoria do próprio trabalho, foi então o
começo da ascensão da Toyota.
Outro aspecto importante dessa época é a fama
de baixa qualidade que os produtos japoneses tinham. Contando com os 3
principais problemas dessa organização, a qualidade entra como um diferencial.
A Toyota resolveu investir na qualidade para voltar ao mercado. Mas primeiro,
foram resolvidos esses 3 aspectos desfavoráveis. Os japoneses começaram a importar
matérias-primas e transformá-las em produtos para então exportá-los, assim, com
o capital adquirido, era recomeçado o ciclo. Isso resolvia o problema de
recursos naturais do país, o problema de capital e o problema de mercado
consumidor, tudo ao mesmo tempo.
Agora voltando a produção flexível, enquanto
no modelo utilizado por Ford era produzido massivas quantidades de um mesmo produto,
no Toyotismo o foco foi produzir pequenas quantidades de produtos
diferenciados. A produção não era em larga escala, assim tudo o que era
produzido era exportado, sem gerar estoques e produtos parados. O capital
adquirido foi importante para a reconstrução pós-guerra do Japão e para a
compra de máquinas e melhoria da infraestrutura da organização.
O grande diferencial da Toyota foi mesmo o controle de qualidade. Para
adquirir um nível de qualidade superior, foi necessário diversas mudanças,
entre elas: mudança nos hábitos japoneses, investir em conhecimento sobre
qualidade, estudo dos outros modelos organizacionais (inclusive visita à Ford).
Na Ford e em muitas outras empresas era utilizado um sistema de
inspeção de qualidade onde os produtos finalizados eram analisados e então os
que não passassem no teste eram descartados, tudo controlado por um
departamento de inspeção de qualidade. No Japão foi utilizado esse modelo de
forma diferente, em qualquer ponto da produção os funcionários poderiam parar o
processo se detectassem algum erro no produto. Pode parecer insignificante a
diferença desses dois tipos de inspeção de qualidade, mas na prática, o capital
perdido com um produto completo sendo descartado era muito maior que o capital
perdido com um pedaço da mercadoria sendo descartado em algum ponto da
produção.
Por fim, os funcionários sendo envolvidos em todos os processos e compartilhando experiência e informação contribuiu para que esse sistema japonês de qualidade tivesse êxito. A produção flexível e o foco na qualidade dos produtos foi o que fez a Toyota voltar para o mercado e superar todas as outras empresas do período nesse quesito, inclusive a Ford.