segunda-feira, 12 de maio de 2014

Vestígios de uma “profetisa”

Por Alessandra Teixeira

Mary Parker Follet
Nascida na cidade estadunidense “Quincy” em 1868, Mary Parker Follet foi quem contribuiu para que a administração tomasse novos rumos. Era formada em economia, administração pública, direito e filosofia. Além disso, Mary atuava como educadora e organizadora de serviços sociais, motivo pelo qual entrou em contato com o meio administrativo e começou a se atrair pelos problemas técnicos desta área, que na época, ganhavam destaque em Boston.

Infelizmente, sua contribuição foi valorizada e enfatizada anos depois da época em que havia exposto suas ideias. Sendo que ainda hoje essa “profetisa” é desconhecida por grande parte da população. O grande destaque em relação às ideias dessa pensadora é o fato de essas poderem ser consideradas futuristas se comparadas à época em que foram publicadas, pois contribuiu para dar uma nova forma a administração tradicional. Princípios que até hoje são utilizados pela administração pública e perduram até os dias atuais.

Essa admirável mulher construiu diversos conceitos administrativos, como por exemplo, o pensamento de trabalho em equipe, compreendido como uma nova forma de relacionamento entre os grupos existentes. E vale ressaltar que esse conceito não é exclusivo do âmbito empresarial, mas pode ser empregado no mundo para resolução das guerras e conflitos do cotidiano, a partir do momento em que deixarmos preconceitos e diferenças de lado para nos unirmos, formando um só corpo.

Trabalho em equipe
Os estudos de Mary Parker levaram em consideração as relações humanas dentro de uma organização, introduzindo a psicologia em seus estudos, iniciando assim um novo ramo da área. Ela mostrou que a integração das pessoas começa a partir do momento em que percebemos que suas ações não podem ser mapeadas como uma máquina e conceituadas com exatidão. Isso fez com que deixasse de lado a concepção de que o indivíduo age somente individualmente, algo que pode ser confirmado nas seguintes citações da autora: “a verdade individual é a verdade do grupo” e também “o homem não pode ter direitos fora da sociedade ou independente da sociedade ou contra a sociedade”.
Além disso, Mary complementa conceitos da Escola Clássica, afirmando que há ensinamentos gerais para qualquer organização existente. E mostra a tamanha importância da coordenação no processo administrativo pelo fato de denominar essa etapa como o “cérebro da administração”. Salienta isto com a criação de quatro princípios: princípio pelo contato direto, princípio do processo de planejamento, princípio das relações recíprocas e princípio do processo contínuo de coordenação, os quais serão descritos logo abaixo.
O princípio pelo contato direto explica que deve se restringir o contato direto entre as pessoas interessadas. Já o princípio do processo de planejamento afirma que desde o início do processo as pessoas que realizam o trabalho devem estar envolvidas. Enquanto o princípio das relações recíprocas fala que os elementos do grupo que estão relacionados têm influência mútua. E por fim, o princípio do processo contínuo de coordenação diz que esta não possui limitações, é contínuo.

Líder x Chefe
Um fator marcante que Follet defendeu ficou conhecido como lei da situação, o qual se fundamentou em frases como “O verdadeiro líder não tem seguidores, mas pessoas trabalhando com ele”, “uma pessoa não deve dar ordens à outra pessoa, mas ambas devem concordar em receber ordens da situação”. Com isso, pode-se afirmar que a situação se torna o fator determinante para governar, uma vez que é essencial o fato de uma pessoa ter a iniciativa da tomada de decisão para contribuir de forma positiva com a organização, independente do cargo em que essa ocupa.

Ainda evidenciando os pensamentos da estudiosa, temos que a liderança seria baseada na influência que o líder tem sobre seu grupo e por isso deve deixar às margens seu poder pessoal para dar ênfase à consonância do grupo. O problema é que a competição entre grupos é um fato que permeia essa situação. Ademais, a tecnologia moderna é outro aspecto que age de forma negativa também sobre a prática da liderança. No entanto, Mary se equivocou ao afirmar que a cooperação tomaria o lugar da competição dando fim a essa discussão, pensamento que originou uma das críticas feitas à sua teoria.

Follet cita também um fator que ficou conhecido como circularidade, dizendo que o relacionamento entre as pessoas influencia diretamente em sua opinião. Ao interagirem, podem corromper a forma como veem a situação e ao entrar em contato com outra pessoa expõe sua nova percepção assimilada do contato anterior e assim sucessivamente como um círculo vicioso. Por isso, a forma como as pessoas percebem as coisas à sua volta estão em constante mudança e a influência entre os seres humanos nessa questão é recíproca.

Passando por outros conceitos da autora, Mary Parker Follet com a intenção de resolver a questão de conflitos internos dentro de uma organização, explica que eles podem ser percebidos tanto a priori (conflito construtivo), quanto a posteriori (conflito danoso) e existem três formas de solução. Afirmava que chegaria um momento em que as diferenças iriam aparecer seja de modo negativo ou positivo, então a melhor opção para se obter neutralidade era fazer com que essa consequência se torne construtiva e não destrutiva.

A primeira alternativa seria através da dominação em que um lado iria ceder para que atenda as necessidades do outro lado, cessando o conflito. A segunda opção se baseia praticamente em um acordo entre ambos os lados, esses teriam que ceder para que os dois saiam satisfeitos ao final do conflito, o que é a uma resolução mais frágil por manter o equilíbrio e não favorecer somente uma parte. Esse tipo de solução é denominado de conciliação. Já a última alternativa, que para Follet seria a ideal, se baseia na solução a partir da integração das partes, visto que ninguém sairia com prejuízo, pois o objetivo era atender ambos os lados.

Chegando a reta final do pensamento da norte – americana Mary, é importante ressaltarmos que a Escola das Relações Humanas mais tarde utilizou a sua linha de raciocínio com a finalidade de “aumentar a lucratividade por meio da diminuição dos custos causados por conflitos internos da empresa”. Follet foi resgatada alguns anos após a publicação de seus pensamentos, porque na época em que expôs sua teoria, esta defendia certos valores que batiam de frente com padrões administrativos dos anos 20.

Concluído o discurso de Mary, podemos afirmar que a “profetisa” abriu um novo leque de possibilidades a se repensar sobre coordenação da administração. Foi a primeira a defender a questão do trabalho em grupo e entender como eles interagem, dando importância aos fatores pessoais, os quais influenciavam diretamente no comportamento humano. Além disso, criou um novo aspecto em relação à liderança, fazendo com que seu conceito se tornasse universal. É umas das mulheres que marcaram a história administrativa e que deve ser ressaltada sempre que nos referirmos às teorias da administração pública e à Escola das Relações Humanas. Está aí um exemplo de uma mulher que fez seu nome virar uma referência: Mary Parker Follet.


Um pouco mais sobre Mary Parker Follet, veja: 




domingo, 11 de maio de 2014

A evolução do trabalho no decorrer dos séculos



                                                  Por Matheus Henrique Marques
                                          
O trabalho pode ser definido como qualquer atividade física ou intelectual, realizada por um ser humano, que tenha o objetivo de fazer, transformar ou obter algo. Sua história é muito dramática de ser estudada. Trabalhar sempre fez parte da história da humanidade e desde os primórdios ele se relacionou com o ser humano de diferentes formas. Pelo fato de ser antiga e muito abrangente a história do trabalho é abordada pelos mais diversos aspectos como: a escravidão, a evolução do trabalho, a industrialização, o assalariamento, entre muitos outros.

A origem da palavra trabalho deixa evidente o conceito que a mesma possuía em seu surgimento. Originada da palavra em latim tripalium, que remetia a um instrumento de três paus que era usado para torturar réus e segurar cavalos por ocasião de ferrar. Trabalhar representava punição e submissão, onde os trabalhadores eram perdedores.

É através da Reforma Protestante que o trabalho assume uma real importância e contribui para outra objetividade manifestada no trabalho. O teórico Max Weber, em sua obra ‘A ética protestante e o espírito do capitalismo’, foi quem melhor escreveu sobre o impacto das reformas protestantes, na valorização religiosa do trabalho.
O trabalho, desde o seu surgimento até então, possuía dois valores diferentes. Ele era tanto indispensável para a reprodução biológica e social, quanto também era indesejável. Essa visão dupla de trabalho é encontrada na cultura judaico-cristã que, mesmo estando na origem de mudanças no que remete ao trabalho, ainda não o ressalta como possibilidade de manifestação de um lugar social, uma vez que ela valoriza o trabalho feito manualmente.

Martin Lutero e a Reforma Protestante
Somente em Lutero, há a possibilidade de superação da ambivalência do trabalho no mundo religioso. Nos estudos de Lutero, a igualdade entre os dois modos de vida não são opostas.  Lutero acentua mais o aspecto da vocação do que o do trabalho propriamente dito. Porém, é em Calvino que o trabalho assume um caráter mais radical de valorização, passando a se tornar um dever. 

Para Calvino, o trabalho deve formar uma muralha contra a preguiça, e que todos devem trabalhar, e quem não o faz, não deve comer, pois trabalho é um dever. Aqui, o trabalho não é menosprezado no sentido de condição miserável, como eram os escravos, mas como condição para a salvação de todos. A subjetividade manifestada nessa condição de trabalho é uma subjetividade resignada. Os que trabalham carregam um sentido de vida, mas é antes de tudo uma predestinação, não há uma alternativa.

João Calvino

Esse tipo de interpretação, vinculada ao trabalho, transita para outra subjetividade, dessa vez mais afirmativa, que permite um sentido mais significante para a vida de quem trabalha. Isso acontece com a passagem da interpretação do trabalho não mais como condenação, mas como possibilidade de exaltação à obra criadora de Deus. Agora o trabalho se faz como chance de alcançar a glória Dele e a vida passa a ser vista como possibilidade de servi-lo.

O trabalho passa a ser valorizado devido à influência dos novos pensamentos religiosos, porém o trabalhador ainda não. As formas de trabalho variam conforme o momento histórico. Porém foi a revolução industrial, que propiciou o principal marco na história do trabalho. Produzir a qualquer custo é o objetivo dos empresários dessa época. O avanço tecnológico reduziu a necessidade de trabalhadores especializados. Ao mesmo tempo uma grande massa deixava os campos para buscar oportunidades na cidade. Sem a necessidade de escolher trabalhadores com habilidades específicas e com o grande contingente de pessoas buscando trabalho, os empresários não davam valor a seus empregados, era muito fácil substitui-los.


 A situação nas indústrias que surgiam não era fácil para os operários. Os salários eram baixos, a jornada de trabalho podia alcançar ate 16 horas por dia e não havia direito a férias. As fábricas eram imundas e barulhentas. E predominava o autoritarismo na relação patrão e operário. Com todas essas condições precárias, é evidente que a consequência seria a pobreza.
 Os patrões preferiam o trabalho das mulheres e, principalmente, das crianças, que recebiam pagamento menor pelo mesmo serviço de um homem adulto, uma vez que o trabalho não exigia mais do operário a força física.

 


  Os trabalhadores logo perceberam a necessidade de se unir e lutar por seus direitos. Assim, o começo da Revolução Industrial representou também o início das lutas operárias. Por meio dessas lutas, os operários formavam a consciência de que pertenciam a uma mesma classe social: o proletariado.

Diante desse contexto surge nos Estados Unidos a escola humanística, com o intuito de responder às necessidades de humanizar e democratizar a empresa. O avanço da psicologia e da sociologia e a aplicação dessas ciências no ambiente de trabalho fazem surgir uma nova perspectiva acerca do comportamento humano e suas motivações.

Elton Mayo
A escola humanística comprova a importância dos fatores psicológicos no desempenho das tarefas. Conclui-se que a capacidade física não é o único fator que determina o nível de produção de um funcionário, fatores psicológicos e as expectativas são determinantes para o rendimento dos mesmos. De acordo com Elton Mayo, um dos pensadores dessa escola, o dinheiro não é a principal motivação para o desempenho dos operários. As pessoas trabalham para se sentir reconhecidos, para serem aprovados e se sentirem inseridos em grupos sociais.

Com o avanço das escolas da administração, foi percebido que o trabalhador precisava se sentir valorizado para assim produzir mais. Com o passar do tempo surgem leis que regulamentam a relação entre o trabalhador e o empregador.  Atualmente, praticamente todos os trabalhadores, possuem benefícios e leis trabalhistas que definem os direitos e deveres dos empregados. Existem os sindicatos que defendem a classe dos trabalhadores, e há também uma legislação específica conforme consta na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho).

            Atualmente existem empresas que investem grandes quantidades de dinheiro, para criar um ambiente acolhedor e descontraído para seus funcionários acreditando que o bem estar e o se sentir bem são a chave para que seus trabalhadores sejam criativos e produtivos. Um grande exemplo é a Google, que é a tricampeã no prêmio de Melhores Empresas para Trabalhar em TI & Telecom de 2012.



Veja mais sobre como as empresas modernas têm mudanças no ambiente e nas rotinas de trabalho:

domingo, 4 de maio de 2014

As raízes da Administração, uma volta aos clássicos

Por Matheus Henrique Marques

Muito distante de nós, a burocracia já fazia parte das sociedades. Como foi dito no post anterior, ela já estava presente no antigo Egito e em Roma. Além disso, em meados dos séculos XIII e XIV, tanto na Igreja Católica quanto na China já existiam organizações com estruturas burocráticas.

Citando brevemente, a burocracia é responsável por evitar confrontos, a arbitrariedade e os abusos de poder na sociedade. Ela tem o objetivo de orientar o comportamento dos trabalhadores para que as organizações cumpram seus fins, evitando acidentes e desperdício de tempo. Ela dita o que, quando e como cada tarefa deve ser executada.

A modernização passa a acontecer quando as sociedades deixam para traz os costumes herdados da era feudal, onde a igreja, os nobres e os reis ditavam o modo de agir e passam a aplicar a racionalidade na economia industrial, influenciados pelos fundamentos das organizações burocráticas.

O declínio do sistema feudal possibilitou o acumulo de capital, um dos principais fatores que possibilitou a emergência da sociedade industrial. Aliados a esse acumulo de dinheiro, o aumento das trocas e venda de produtos no fim do período medieval, o sistema de produção manufatureiro, a inflação que assolou os séculos XVIII e XIX e o cercamento dos campos, foram decisivos para o surgimento do regime econômico capitalista.

Sistema feudal


Acumulação primitiva de capital

Feito o resumo do surgimento das primeiras indústrias, avançaremos alguns anos no tempo para discutir o surgimento da escola clássica da administração. Em busca de uma maior produtividade, surgiram várias práticas de gestão transformando a administração em uma ciência. Os avanços tecnológicos proporcionados pelas revoluções industriais possibilitaram o surgimento de novas indústrias e fizeram com que gradativamente os trabalhadores fossem substituídos por maquinas. Esses fatores fortaleceram a busca cientifica por melhores práticas empresariais e para o surgimento da administração como ciência, pois na história sempre existiram formas de administrar, mesmo que de formas rudimentares.

A partir do século XX foram criados os primeiros trabalhos sobre a Teoria da Administração. Um dos precursores foi Frederick Taylor, que desenvolveu a Escola da Administração Cientifica, na qual propôs a divisão de funções do trabalhador com o objetivo de controlar o tempo gasto em cada atividade, a fim de reduzir o tempo de execução de todas as tarefas. Assim, nesse período desenvolveu uma filosofia de incentivo, na qual o trabalhador que produzisse mais, em menos tempo, seria premiado.

 Neste período, os trabalhadores eram substituídos mais facilmente, pois o seu trabalho não necessitava de experiência e nem de especialização, uma vez que seu trabalho era simplificado. Assim, com este trabalho simplificado, o investimento em treinamento e formação era precário, e as demissões, pelo mesmo motivo, aconteciam mais facilmente.

Em um primeiro momento, a Teoria da Administração Científica de Taylor enfatiza a racionalização do trabalho, e em um segundo momento, a sua teoria estendeu-se aos princípios da administração para toda a organização, a fim de eliminar o desperdício, a inatividade dos trabalhadores, reduzirem o custo de produção, entre outros. Para motivar os trabalhadores a colaborarem com a organização, a única consideração vista, foi usar de planos de incentivos salariais, já que o homem nessa época era visto como “homem econômico” (Homo economicus), ou seja, que trabalhava apenas pela sua necessidade financeira.

Dentre todas as limitações da Administração Cientifica, foi este o primeiro passo na busca de uma teoria administrativa. Mas enquanto Taylor, e outros engenheiros americanos desenvolviam a Administração Cientifica nos Estados Unidos, surgia em 1916, na França, a chamada Teoria Clássica da Administração, defendida por Henri Fayol.

Enquanto a Administração Cientifica se caracterizava pela realização das tarefas pelos trabalhadores, a Teoria Clássica se caracterizava por toda estrutura que a organização deveria ter para se tornar eficiente. Pode-se observar que ambas as teorias enfatizavam a eficiência da organização. Porém, segundo a Administração Cientifica a efetividade em um processo só pode ser atingida através da racionalização do trabalho, enquanto que na Teoria Clássica, para se obter eficiência, é necessário o envolvimento de toda a organização.

Fayol cita 14 princípios, são eles: divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, unidade de comando, unidade de direção, disciplina, prevalência dos interesses gerais, remuneração, centralização, hierarquia, ordem, estabilidade dos funcionários, iniciativa e espírito de corpo.

Esses princípios regem que quanto maior a especialização dos funcionários maior a produtividade. Logo, cada funcionário deve ser responsável por uma parte da produção, onde o foco deve ser a gerência administrativa da empresa. Fayol propõe a autoridade que cada nível hierárquico da empresa deve ter em mãos e que os funcionários de um mesmo grupo devem se reportar a um único superior, para que desse modo a unidade seja garantida.

Fayol afirma que para os trabalhadores deve haver disciplina e ordem, pois sem aquela não há organização e quanto a esta, cada trabalhador deve possuir seu devido lugar com a sua devida função. O trabalhador deve se manter estável e seu salário deve ser de acordo com suas necessidades para garantir a sua satisfação.

Fayol ainda classifica as funções básicas de um administrador como sendo: Planejar, ou seja, estabelecer quais são os objetivos e como eles serão alcançados; Comandar, que é dirigir e orientar a organização; Organizar, que foca na utilização de todos os recursos da empresa pra atingir o objetivo; Controlar, que envolve a verificação da utilização das normas e regras estabelecidas; e por fim, Coordenar, que é o departamento pessoal, unindo e harmonizando os atos e esforços coletivos.

Linha de produção do Ford Model T
Em 1914 o empresário Henry Ford, criou o termo Fordismo, se referindo ao sistema de produção em massa, conhecido também como “Linha de Produção” que ele mesmo idealizou um ano antes. Fundador da Ford Motor Company, Ford implantou em sua organização uma nova forma de racionalizar a produção capitalista tomando como base o surgimento de novas técnicas articuladas pela produção e consumo em massa.

Influenciado pelos princípios de padronização e simplificação de Taylor, Ford desenvolveu varias técnicas avançadas para seu tempo. Ele revolucionou a indústria automobilística, ao implantar em sua fabrica a primeira linha de montagem automatizada. Sua produção era totalmente verticalizada e possuía desde fábricas de vidro até siderúrgicas. No que tange a fábrica de automóveis, seu objetivo era tornar o carro tão barato que todos poderiam comprá-lo.

Henry Ford e sua criação Ford T

O sistema criado por Ford aperfeiçoou a linha de montagem. Os carros eram montados em esteiras móveis, permitindo que os funcionários ficassem quase que completamente imóveis enquanto as peças para a montagem dos veículos chegavam a eles, diminuindo assim o deslocamento desnecessário de seus funcionários e aumentando a produtividade dos mesmos.

Seguindo as influências de Taylor, nas fabricas de Ford cada funcionário era responsável por um pequeno processo da produção, diminuindo a necessidade de qualificação dos trabalhadores.


Grandes empresas ainda adotam a linha de produção na atualidade.
Por meio dessa pequena passagem pela Escola Clássica da Administração, fica evidente a grande influência que os autores da época exercem nos dias de hoje. A base do modelo atual das organizações está contida nas publicações de Taylor, Fayol, Ford e outros clássicos. É evidente que a administração evolui em passos largos, outras Escolas surgiram, técnicas para administrar organizações foram sendo desenvolvidas e muito da Teoria Clássica da Administração foi criticado, aperfeiçoado e algumas vezes substituído, porém a Escola Clássica da Administração transcende as organizações e ainda exerce grande influencia. Seria muito petulante de nossa parte, dizer que as Escolas de administração são antagônicas acreditamos sim em diferenças, mas preferimos defender a ideia de complementariedade entre elas. 


Burocracia... Progresso ou retrocesso?

Por Alessandra Teixeira

“Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno” é uma frase de Dante Alighieri, o grande poeta italiano. Tal frase foi ressaltada durante uma entrevista em 2006, por um dos líderes do tráfico mais procurados pela Polícia Federal brasileira, Marcola. Durante toda a entrevista Marcola demonstra triunfo em suas ações em relação à facção que comanda diante dos erros ou disfunções que permeiam a burocracia. A inércia da sociedade faz com que essa chaga se alastre.


A queda do império Romano deveria ter sido uma lição de aprendizado quando o assunto é burocracia. Os romanos se afundaram na própria “cobaia” e nosso Estado não está em uma situação muito diferente. Desde o declínio do império, deveríamos ter tirado algumas conclusões perante os erros cometidos naquela época. A burocracia se autodestruiu e deu início a um novo período com a invasão dos bárbaros. Podemos comparar estes fatos com o cenário atual: o sistema burocrático está praticamente invadido por um monstro, como cita Marcola, que nós mesmos criamos. Este monstro é resultado de uma organização caracterizada desde o começo pelos seus “excessismos”, o lado sombrio burocrático.

Só que ao invés de uma nova era estamos às margens de um retrocesso social. A Teoria que construiu e organizou um dia nossa sociedade, hoje clama por novas ações para que suas disfunções não nos afundem. A corrupção, um dos principais problemas enfrentados hoje pelo país, se sobrepõe a burocracia como uma cúpula invisível. E o deplorável é que, na Roma antiga os meios de comunicação eram mais escassos em relação aos de hoje, ou seja, atualmente os fatos são expostos todos os dias, proporcionando às pessoas o acesso e a consciência da situação exposta. A questão é mais grave do que aparenta ser, poderíamos dizer uma estagnação burocrática ou até mesmo um retrocesso.

O Estado atual luta contra ele mesmo, mas não obtém resultado. Visto que essa situação já se tornou um círculo vicioso, formando uma bola de neve de tamanho imensurável. Por exemplo, se pararmos para refletir... O mensalão nada mais foi do que uma tentativa de golpe de estado. Assim, retomamos a ideia de Tragtenberg que ressaltava que a própria burocracia açambarca os poderes político e econômico com tendência a se tornar autônoma como um poder acima da sociedade. Weber cria um sistema fora da realidade e esquece fatores humanos e sociais do comportamento. A administração informal foi ignorada, e isso fortaleceu certas disfunções da burocracia que disparou na frente.

Deficiência no ensino público, falta de estrutura na saúde pública e aumento da violência são somente subprodutos, consequências e parte da bola de neve. O estereótipo criado pela própria sociedade em relação à essas questões é fruto da alienação e aceitação, deixando suas características marcadas desde a época em que a palavra democracia ainda estava longe de ser colocada em prática. Fomos e somos adestrados a ideia de democracia, no entanto ela mesma já se perdeu em sua própria ideologia há anos.

Essa dificuldade de identificar até onde esses problemas se relacionam a questão da burocracia que nos levam a impormos escassez ou excessismos neste âmbito, é o resultado: desequilíbrio no funcionamento da mesma. Todavia, já foram feitos vários estudos que demonstram de fato que é impossível vivermos sem um pingo de estrutura burocrática. O homem é um ser racional e tende a querer se organizar, superar suas limitações.

Merton (1978) fez um estudo afirmando que Weber precisava enfocar as limitações de sua teoria da organização burocrática. Além disso, alegou que Weber valorizou o formalismo e deixa as margens suas conseqüências.  Ele afirma que a sociedade começou a tomar consciência dos problemas apenas quando esse modelo se tornou uma ofensa, ou seja, quando a situação calamitosa começa a se alastrar. Assim, ressaltamos a ideia da forma de dominação citada anteriormente por Tragtenberg. Isso nada mais é do que a consequência da inércia da sociedade.

A burocracia sempre estará em constante mudança, é um ser flexível e as organizações precisam acompanhá-la. Ainda enfatizando algumas das ideias de Tragtenberg, o estudioso explica que é necessário um estudo de como funcionam os grupos humanos e como alteram o seu comportamento dentro nas organizações, possibilitando a descoberta sobre como essa dominação pode vir a aumentar.

 Sem sombra de dúvidas, o homem necessita de um sistema que se apoie em regras e normas. Os pensamentos administrativos nos permitiram metodizar as ações humanas para alcançarmos nossos objetivos, a fim de aumentar nossa produtividade e lucros. Passamos pelas sociedades caracterizadas por Weber como tradicional e carismática para então, chegarmos a base da burocracia atual, a racional-legal. Igualdade a todos perante a lei, sem interesses pessoais nas relações humanas.

 A sociedade tradicional não se adaptaria as mudanças sociais, pois a mesma é apegada ao passado, com seus convencionalismos e fatores culturais. A personalização do poder atrasaria nosso desenvolvimento econômico e social. Já a carismática, coloca a figura de seu líder no trono o qual luta por objetivos e desejos específicos de certa comunidade. A autonomia do líder impediria totalmente qualquer ideia de democracia que pudesse ser implementada pela sociedade.

É importante ressaltar, que o processo de modernização da sociedade foi essencial para nos organizarmos e principalmente, nos desenvolvermos. Pois foi dessa forma que deixamos crenças e mitos de lado para dar lugar à racionalização. O único problema é que as deformidades de certas teorias tomaram forma brusca e estamos sendo atacados por isso. A reorganização burocrática é um meio de podermos reestruturar certas disfunções ou abrir portas para uma solução acerca dessa questão.

  Portanto, a burocracia se faz essencial na medida em que nos proporciona ordem, racionalidade, desvincula do passado e dá início ao lógico e racional. A inércia da sociedade em relação às disfunções que nos atrasam são respostas a nossa estagnação, nos empurrando para trás. Esses erros nos atrapalham todos os dias, desde o momento em que nós acordamos e começamos nossas atividades rotineiras, mostrando a tamanha influência que eles acarretam para a nossa vida em sociedade.

 Se pararmos para pensar, nossas próprias vidas são induzidas por certo atraso como consequência dessas circunstâncias. Gilmar Machado, prefeito da cidade de Uberlândia, por exemplo, deu uma entrevista ao canal da Band, a qual se tornou parte de uma matéria que visava denunciar a situação precária da educação uberlandense. E como efeito disso, o que vimos foram várias críticas nas redes sociais ocorridas no mesmo dia e  relatando a revolta das pessoas pelo governo em questão. Hashtags enfatizavam o “acorda Brasil”, mas a reação sempre é a mesma, somente a indignação por nós, cidadãos. Falta usarmos a burocracia ao nosso favor, ao invés de permitir com que ela se torne um poder autônomo que nos afete de forma bastante conturbadora.