domingo, 4 de maio de 2014

As raízes da Administração, uma volta aos clássicos

Por Matheus Henrique Marques

Muito distante de nós, a burocracia já fazia parte das sociedades. Como foi dito no post anterior, ela já estava presente no antigo Egito e em Roma. Além disso, em meados dos séculos XIII e XIV, tanto na Igreja Católica quanto na China já existiam organizações com estruturas burocráticas.

Citando brevemente, a burocracia é responsável por evitar confrontos, a arbitrariedade e os abusos de poder na sociedade. Ela tem o objetivo de orientar o comportamento dos trabalhadores para que as organizações cumpram seus fins, evitando acidentes e desperdício de tempo. Ela dita o que, quando e como cada tarefa deve ser executada.

A modernização passa a acontecer quando as sociedades deixam para traz os costumes herdados da era feudal, onde a igreja, os nobres e os reis ditavam o modo de agir e passam a aplicar a racionalidade na economia industrial, influenciados pelos fundamentos das organizações burocráticas.

O declínio do sistema feudal possibilitou o acumulo de capital, um dos principais fatores que possibilitou a emergência da sociedade industrial. Aliados a esse acumulo de dinheiro, o aumento das trocas e venda de produtos no fim do período medieval, o sistema de produção manufatureiro, a inflação que assolou os séculos XVIII e XIX e o cercamento dos campos, foram decisivos para o surgimento do regime econômico capitalista.

Sistema feudal


Acumulação primitiva de capital

Feito o resumo do surgimento das primeiras indústrias, avançaremos alguns anos no tempo para discutir o surgimento da escola clássica da administração. Em busca de uma maior produtividade, surgiram várias práticas de gestão transformando a administração em uma ciência. Os avanços tecnológicos proporcionados pelas revoluções industriais possibilitaram o surgimento de novas indústrias e fizeram com que gradativamente os trabalhadores fossem substituídos por maquinas. Esses fatores fortaleceram a busca cientifica por melhores práticas empresariais e para o surgimento da administração como ciência, pois na história sempre existiram formas de administrar, mesmo que de formas rudimentares.

A partir do século XX foram criados os primeiros trabalhos sobre a Teoria da Administração. Um dos precursores foi Frederick Taylor, que desenvolveu a Escola da Administração Cientifica, na qual propôs a divisão de funções do trabalhador com o objetivo de controlar o tempo gasto em cada atividade, a fim de reduzir o tempo de execução de todas as tarefas. Assim, nesse período desenvolveu uma filosofia de incentivo, na qual o trabalhador que produzisse mais, em menos tempo, seria premiado.

 Neste período, os trabalhadores eram substituídos mais facilmente, pois o seu trabalho não necessitava de experiência e nem de especialização, uma vez que seu trabalho era simplificado. Assim, com este trabalho simplificado, o investimento em treinamento e formação era precário, e as demissões, pelo mesmo motivo, aconteciam mais facilmente.

Em um primeiro momento, a Teoria da Administração Científica de Taylor enfatiza a racionalização do trabalho, e em um segundo momento, a sua teoria estendeu-se aos princípios da administração para toda a organização, a fim de eliminar o desperdício, a inatividade dos trabalhadores, reduzirem o custo de produção, entre outros. Para motivar os trabalhadores a colaborarem com a organização, a única consideração vista, foi usar de planos de incentivos salariais, já que o homem nessa época era visto como “homem econômico” (Homo economicus), ou seja, que trabalhava apenas pela sua necessidade financeira.

Dentre todas as limitações da Administração Cientifica, foi este o primeiro passo na busca de uma teoria administrativa. Mas enquanto Taylor, e outros engenheiros americanos desenvolviam a Administração Cientifica nos Estados Unidos, surgia em 1916, na França, a chamada Teoria Clássica da Administração, defendida por Henri Fayol.

Enquanto a Administração Cientifica se caracterizava pela realização das tarefas pelos trabalhadores, a Teoria Clássica se caracterizava por toda estrutura que a organização deveria ter para se tornar eficiente. Pode-se observar que ambas as teorias enfatizavam a eficiência da organização. Porém, segundo a Administração Cientifica a efetividade em um processo só pode ser atingida através da racionalização do trabalho, enquanto que na Teoria Clássica, para se obter eficiência, é necessário o envolvimento de toda a organização.

Fayol cita 14 princípios, são eles: divisão do trabalho, autoridade e responsabilidade, unidade de comando, unidade de direção, disciplina, prevalência dos interesses gerais, remuneração, centralização, hierarquia, ordem, estabilidade dos funcionários, iniciativa e espírito de corpo.

Esses princípios regem que quanto maior a especialização dos funcionários maior a produtividade. Logo, cada funcionário deve ser responsável por uma parte da produção, onde o foco deve ser a gerência administrativa da empresa. Fayol propõe a autoridade que cada nível hierárquico da empresa deve ter em mãos e que os funcionários de um mesmo grupo devem se reportar a um único superior, para que desse modo a unidade seja garantida.

Fayol afirma que para os trabalhadores deve haver disciplina e ordem, pois sem aquela não há organização e quanto a esta, cada trabalhador deve possuir seu devido lugar com a sua devida função. O trabalhador deve se manter estável e seu salário deve ser de acordo com suas necessidades para garantir a sua satisfação.

Fayol ainda classifica as funções básicas de um administrador como sendo: Planejar, ou seja, estabelecer quais são os objetivos e como eles serão alcançados; Comandar, que é dirigir e orientar a organização; Organizar, que foca na utilização de todos os recursos da empresa pra atingir o objetivo; Controlar, que envolve a verificação da utilização das normas e regras estabelecidas; e por fim, Coordenar, que é o departamento pessoal, unindo e harmonizando os atos e esforços coletivos.

Linha de produção do Ford Model T
Em 1914 o empresário Henry Ford, criou o termo Fordismo, se referindo ao sistema de produção em massa, conhecido também como “Linha de Produção” que ele mesmo idealizou um ano antes. Fundador da Ford Motor Company, Ford implantou em sua organização uma nova forma de racionalizar a produção capitalista tomando como base o surgimento de novas técnicas articuladas pela produção e consumo em massa.

Influenciado pelos princípios de padronização e simplificação de Taylor, Ford desenvolveu varias técnicas avançadas para seu tempo. Ele revolucionou a indústria automobilística, ao implantar em sua fabrica a primeira linha de montagem automatizada. Sua produção era totalmente verticalizada e possuía desde fábricas de vidro até siderúrgicas. No que tange a fábrica de automóveis, seu objetivo era tornar o carro tão barato que todos poderiam comprá-lo.

Henry Ford e sua criação Ford T

O sistema criado por Ford aperfeiçoou a linha de montagem. Os carros eram montados em esteiras móveis, permitindo que os funcionários ficassem quase que completamente imóveis enquanto as peças para a montagem dos veículos chegavam a eles, diminuindo assim o deslocamento desnecessário de seus funcionários e aumentando a produtividade dos mesmos.

Seguindo as influências de Taylor, nas fabricas de Ford cada funcionário era responsável por um pequeno processo da produção, diminuindo a necessidade de qualificação dos trabalhadores.


Grandes empresas ainda adotam a linha de produção na atualidade.
Por meio dessa pequena passagem pela Escola Clássica da Administração, fica evidente a grande influência que os autores da época exercem nos dias de hoje. A base do modelo atual das organizações está contida nas publicações de Taylor, Fayol, Ford e outros clássicos. É evidente que a administração evolui em passos largos, outras Escolas surgiram, técnicas para administrar organizações foram sendo desenvolvidas e muito da Teoria Clássica da Administração foi criticado, aperfeiçoado e algumas vezes substituído, porém a Escola Clássica da Administração transcende as organizações e ainda exerce grande influencia. Seria muito petulante de nossa parte, dizer que as Escolas de administração são antagônicas acreditamos sim em diferenças, mas preferimos defender a ideia de complementariedade entre elas. 


4 comentários:

  1. Parabéns à todos por essa reflexão... Mesmo com passar de muitos anos, as ideias de Taylor, Ford e Fayol continuam mais vivas do que nunca!!!

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  2. Gostei muito, principalmente sobre a questão de que as Escolas de Administração são complementares, assim chegamos a evolução, a tese e a antítese!

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  3. É verdade de que este trabalho foi bem reflectido e acredito que com essa materia fico ainda mais esclarecido acerca dos clássicos da administração.

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