Por Alessandra Teixeira
“Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno” é uma frase de Dante Alighieri, o grande poeta italiano. Tal frase foi ressaltada durante uma entrevista em 2006, por um dos líderes do tráfico mais procurados pela Polícia Federal brasileira, Marcola. Durante toda a entrevista Marcola demonstra triunfo em suas ações em relação à facção que comanda diante dos erros ou disfunções que permeiam a burocracia. A inércia da sociedade faz com que essa chaga se alastre.
A queda do império Romano deveria ter sido uma lição de aprendizado
quando o assunto é burocracia. Os romanos se afundaram na própria “cobaia” e
nosso Estado não está em uma situação muito diferente. Desde o declínio do
império, deveríamos ter tirado algumas conclusões perante os erros cometidos
naquela época. A burocracia se autodestruiu e deu início a um novo período com a
invasão dos bárbaros. Podemos comparar estes fatos com o cenário atual: o
sistema burocrático está praticamente invadido por um monstro, como cita
Marcola, que nós mesmos criamos. Este monstro é resultado de uma organização
caracterizada desde o começo pelos seus “excessismos”, o lado sombrio
burocrático.
Só que ao invés de uma nova era estamos às margens de um retrocesso
social. A Teoria que construiu e organizou um dia nossa sociedade, hoje clama
por novas ações para que suas disfunções não nos afundem. A corrupção, um dos
principais problemas enfrentados hoje pelo país, se sobrepõe a burocracia como
uma cúpula invisível. E o deplorável é que, na Roma antiga os meios de comunicação
eram mais escassos em relação aos de hoje, ou seja, atualmente os fatos são
expostos todos os dias, proporcionando às pessoas o acesso e a consciência da
situação exposta. A questão é mais grave do que aparenta ser, poderíamos dizer uma
estagnação burocrática ou até mesmo um retrocesso.
O Estado atual luta contra ele mesmo, mas não obtém resultado. Visto que
essa situação já se tornou um círculo vicioso, formando uma bola de neve de
tamanho imensurável. Por exemplo, se pararmos para refletir... O mensalão nada
mais foi do que uma tentativa de golpe de estado. Assim, retomamos a ideia de
Tragtenberg que ressaltava que a própria burocracia açambarca os poderes
político e econômico com tendência a se tornar autônoma como um poder acima da
sociedade. Weber cria um sistema fora da realidade e esquece fatores humanos e
sociais do comportamento. A administração informal foi ignorada, e isso
fortaleceu certas disfunções da burocracia que disparou na frente.
Deficiência no ensino público, falta de estrutura na saúde pública e
aumento da violência são somente subprodutos, consequências e parte da bola de
neve. O estereótipo criado pela própria sociedade em relação à essas questões é
fruto da alienação e aceitação, deixando suas características marcadas desde a
época em que a palavra democracia ainda estava longe de ser colocada em
prática. Fomos e somos adestrados a ideia de democracia, no entanto ela mesma
já se perdeu em sua própria ideologia há anos.
Essa dificuldade de identificar até onde esses problemas se relacionam a questão
da burocracia que nos levam a impormos escassez ou excessismos neste âmbito, é
o resultado: desequilíbrio no funcionamento da mesma. Todavia, já foram feitos
vários estudos que demonstram de fato que é impossível vivermos sem um pingo de
estrutura burocrática. O homem é um ser racional e tende a querer se organizar,
superar suas limitações.
Merton (1978) fez um estudo afirmando que Weber precisava enfocar as
limitações de sua teoria da organização burocrática. Além disso, alegou que
Weber valorizou o formalismo e deixa as margens suas conseqüências. Ele afirma que a sociedade começou a tomar
consciência dos problemas apenas quando esse modelo se tornou uma ofensa, ou
seja, quando a situação calamitosa começa a se alastrar. Assim, ressaltamos a
ideia da forma de dominação citada anteriormente por Tragtenberg. Isso nada
mais é do que a consequência da inércia da sociedade.
A burocracia sempre
estará em constante mudança, é um ser flexível e as organizações precisam acompanhá-la.
Ainda enfatizando algumas das ideias de Tragtenberg, o estudioso explica que é
necessário um estudo de como funcionam os grupos humanos e como alteram o seu
comportamento dentro nas organizações, possibilitando a descoberta sobre como
essa dominação pode vir a aumentar.
Sem sombra de
dúvidas, o homem necessita de um sistema que se apoie em regras e normas. Os
pensamentos administrativos nos permitiram metodizar as ações humanas para
alcançarmos nossos objetivos, a fim de aumentar nossa produtividade e lucros.
Passamos pelas sociedades caracterizadas por Weber como tradicional e
carismática para então, chegarmos a base da burocracia atual, a racional-legal.
Igualdade a todos perante a lei, sem interesses pessoais nas relações humanas.
A sociedade
tradicional não se adaptaria as mudanças sociais, pois a mesma é apegada ao
passado, com seus convencionalismos e fatores culturais. A personalização do
poder atrasaria nosso desenvolvimento econômico e social. Já a carismática,
coloca a figura de seu líder no trono o qual luta por objetivos e desejos
específicos de certa comunidade. A autonomia do líder impediria totalmente
qualquer ideia de democracia que pudesse ser implementada pela sociedade.
É importante
ressaltar, que o processo de modernização da sociedade foi essencial para nos
organizarmos e principalmente, nos desenvolvermos. Pois foi dessa forma que deixamos
crenças e mitos de lado para dar lugar à racionalização. O único problema é que
as deformidades de certas teorias tomaram forma brusca e estamos sendo atacados
por isso. A reorganização burocrática é um meio de podermos reestruturar certas
disfunções ou abrir portas para uma solução acerca dessa questão.
Portanto, a
burocracia se faz essencial na medida em que nos proporciona ordem, racionalidade,
desvincula do passado e dá início ao lógico e racional. A inércia da sociedade
em relação às disfunções que nos atrasam são respostas a nossa estagnação, nos
empurrando para trás. Esses erros nos atrapalham todos os dias, desde o momento
em que nós acordamos e começamos nossas atividades rotineiras, mostrando a
tamanha influência que eles acarretam para a nossa vida em sociedade.
Se pararmos para pensar, nossas próprias vidas
são induzidas por certo atraso como consequência dessas circunstâncias. Gilmar
Machado, prefeito da cidade de Uberlândia, por exemplo, deu uma entrevista ao
canal da Band, a qual se tornou parte de uma matéria que visava denunciar a
situação precária da educação uberlandense. E como efeito disso, o que vimos
foram várias críticas nas redes sociais ocorridas no mesmo dia e relatando a revolta das pessoas pelo governo
em questão. Hashtags enfatizavam o “acorda Brasil”, mas a reação sempre é a
mesma, somente a indignação por nós, cidadãos. Falta usarmos a burocracia ao nosso
favor, ao invés de permitir com que ela se torne um poder autônomo que nos
afete de forma bastante conturbadora.
Muita boa reflexão sobre a burocracia!!! Muitos confundem as disfunções burocráticas com o verdadeiro intuito desse poderosíssimo instrumento de racionalização. Parabéns à todos pelo blog e parabéns a iniciativa do professor em promover esse tipo de método avaliativo!
ResponderExcluiradorei o texto, claro, direto e completamente verdadeiro, que aborda questões muitas vezes ignoradas pela sociedade, parabéns!
ResponderExcluirBem estruturado, críticas interessantes e bem referenciado. Parabens!
ResponderExcluirMuito bom! Temos que tomar cuidado ao falar a respeito da burocracia, pois ela existe como uma forma de organizar, mas devido as suas disfunções é vista como algo ruim!
ResponderExcluirBem legal o texto! Foram feitas boas críticas, baseados em bons argumentos! Parabéns ao grupo!
ResponderExcluirMuito legal o blog! Parabéns! Continuem nesse caminho que terão muito sucesso! Lara - 79ª ADM UFU Noturno
ResponderExcluirBurocracia... apenas um mal necessário!!!
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