domingo, 4 de maio de 2014

Burocracia... Progresso ou retrocesso?

Por Alessandra Teixeira

“Percam todas as esperanças. Estamos todos no inferno” é uma frase de Dante Alighieri, o grande poeta italiano. Tal frase foi ressaltada durante uma entrevista em 2006, por um dos líderes do tráfico mais procurados pela Polícia Federal brasileira, Marcola. Durante toda a entrevista Marcola demonstra triunfo em suas ações em relação à facção que comanda diante dos erros ou disfunções que permeiam a burocracia. A inércia da sociedade faz com que essa chaga se alastre.


A queda do império Romano deveria ter sido uma lição de aprendizado quando o assunto é burocracia. Os romanos se afundaram na própria “cobaia” e nosso Estado não está em uma situação muito diferente. Desde o declínio do império, deveríamos ter tirado algumas conclusões perante os erros cometidos naquela época. A burocracia se autodestruiu e deu início a um novo período com a invasão dos bárbaros. Podemos comparar estes fatos com o cenário atual: o sistema burocrático está praticamente invadido por um monstro, como cita Marcola, que nós mesmos criamos. Este monstro é resultado de uma organização caracterizada desde o começo pelos seus “excessismos”, o lado sombrio burocrático.

Só que ao invés de uma nova era estamos às margens de um retrocesso social. A Teoria que construiu e organizou um dia nossa sociedade, hoje clama por novas ações para que suas disfunções não nos afundem. A corrupção, um dos principais problemas enfrentados hoje pelo país, se sobrepõe a burocracia como uma cúpula invisível. E o deplorável é que, na Roma antiga os meios de comunicação eram mais escassos em relação aos de hoje, ou seja, atualmente os fatos são expostos todos os dias, proporcionando às pessoas o acesso e a consciência da situação exposta. A questão é mais grave do que aparenta ser, poderíamos dizer uma estagnação burocrática ou até mesmo um retrocesso.

O Estado atual luta contra ele mesmo, mas não obtém resultado. Visto que essa situação já se tornou um círculo vicioso, formando uma bola de neve de tamanho imensurável. Por exemplo, se pararmos para refletir... O mensalão nada mais foi do que uma tentativa de golpe de estado. Assim, retomamos a ideia de Tragtenberg que ressaltava que a própria burocracia açambarca os poderes político e econômico com tendência a se tornar autônoma como um poder acima da sociedade. Weber cria um sistema fora da realidade e esquece fatores humanos e sociais do comportamento. A administração informal foi ignorada, e isso fortaleceu certas disfunções da burocracia que disparou na frente.

Deficiência no ensino público, falta de estrutura na saúde pública e aumento da violência são somente subprodutos, consequências e parte da bola de neve. O estereótipo criado pela própria sociedade em relação à essas questões é fruto da alienação e aceitação, deixando suas características marcadas desde a época em que a palavra democracia ainda estava longe de ser colocada em prática. Fomos e somos adestrados a ideia de democracia, no entanto ela mesma já se perdeu em sua própria ideologia há anos.

Essa dificuldade de identificar até onde esses problemas se relacionam a questão da burocracia que nos levam a impormos escassez ou excessismos neste âmbito, é o resultado: desequilíbrio no funcionamento da mesma. Todavia, já foram feitos vários estudos que demonstram de fato que é impossível vivermos sem um pingo de estrutura burocrática. O homem é um ser racional e tende a querer se organizar, superar suas limitações.

Merton (1978) fez um estudo afirmando que Weber precisava enfocar as limitações de sua teoria da organização burocrática. Além disso, alegou que Weber valorizou o formalismo e deixa as margens suas conseqüências.  Ele afirma que a sociedade começou a tomar consciência dos problemas apenas quando esse modelo se tornou uma ofensa, ou seja, quando a situação calamitosa começa a se alastrar. Assim, ressaltamos a ideia da forma de dominação citada anteriormente por Tragtenberg. Isso nada mais é do que a consequência da inércia da sociedade.

A burocracia sempre estará em constante mudança, é um ser flexível e as organizações precisam acompanhá-la. Ainda enfatizando algumas das ideias de Tragtenberg, o estudioso explica que é necessário um estudo de como funcionam os grupos humanos e como alteram o seu comportamento dentro nas organizações, possibilitando a descoberta sobre como essa dominação pode vir a aumentar.

 Sem sombra de dúvidas, o homem necessita de um sistema que se apoie em regras e normas. Os pensamentos administrativos nos permitiram metodizar as ações humanas para alcançarmos nossos objetivos, a fim de aumentar nossa produtividade e lucros. Passamos pelas sociedades caracterizadas por Weber como tradicional e carismática para então, chegarmos a base da burocracia atual, a racional-legal. Igualdade a todos perante a lei, sem interesses pessoais nas relações humanas.

 A sociedade tradicional não se adaptaria as mudanças sociais, pois a mesma é apegada ao passado, com seus convencionalismos e fatores culturais. A personalização do poder atrasaria nosso desenvolvimento econômico e social. Já a carismática, coloca a figura de seu líder no trono o qual luta por objetivos e desejos específicos de certa comunidade. A autonomia do líder impediria totalmente qualquer ideia de democracia que pudesse ser implementada pela sociedade.

É importante ressaltar, que o processo de modernização da sociedade foi essencial para nos organizarmos e principalmente, nos desenvolvermos. Pois foi dessa forma que deixamos crenças e mitos de lado para dar lugar à racionalização. O único problema é que as deformidades de certas teorias tomaram forma brusca e estamos sendo atacados por isso. A reorganização burocrática é um meio de podermos reestruturar certas disfunções ou abrir portas para uma solução acerca dessa questão.

  Portanto, a burocracia se faz essencial na medida em que nos proporciona ordem, racionalidade, desvincula do passado e dá início ao lógico e racional. A inércia da sociedade em relação às disfunções que nos atrasam são respostas a nossa estagnação, nos empurrando para trás. Esses erros nos atrapalham todos os dias, desde o momento em que nós acordamos e começamos nossas atividades rotineiras, mostrando a tamanha influência que eles acarretam para a nossa vida em sociedade.

 Se pararmos para pensar, nossas próprias vidas são induzidas por certo atraso como consequência dessas circunstâncias. Gilmar Machado, prefeito da cidade de Uberlândia, por exemplo, deu uma entrevista ao canal da Band, a qual se tornou parte de uma matéria que visava denunciar a situação precária da educação uberlandense. E como efeito disso, o que vimos foram várias críticas nas redes sociais ocorridas no mesmo dia e  relatando a revolta das pessoas pelo governo em questão. Hashtags enfatizavam o “acorda Brasil”, mas a reação sempre é a mesma, somente a indignação por nós, cidadãos. Falta usarmos a burocracia ao nosso favor, ao invés de permitir com que ela se torne um poder autônomo que nos afete de forma bastante conturbadora.








7 comentários:

  1. Muita boa reflexão sobre a burocracia!!! Muitos confundem as disfunções burocráticas com o verdadeiro intuito desse poderosíssimo instrumento de racionalização. Parabéns à todos pelo blog e parabéns a iniciativa do professor em promover esse tipo de método avaliativo!

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  2. adorei o texto, claro, direto e completamente verdadeiro, que aborda questões muitas vezes ignoradas pela sociedade, parabéns!

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  3. Bem estruturado, críticas interessantes e bem referenciado. Parabens!

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  4. Muito bom! Temos que tomar cuidado ao falar a respeito da burocracia, pois ela existe como uma forma de organizar, mas devido as suas disfunções é vista como algo ruim!

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  5. Bem legal o texto! Foram feitas boas críticas, baseados em bons argumentos! Parabéns ao grupo!

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  6. Muito legal o blog! Parabéns! Continuem nesse caminho que terão muito sucesso! Lara - 79ª ADM UFU Noturno

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  7. Burocracia... apenas um mal necessário!!!

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